“Para ter certeza de que a mensagem que enviamos é a mesma que foi recebida, podemos pedir ao ouvinte que a repita para nós”.[1]
De posse dos conceitos (básicos) de constituição da CNV, o professor pode considerar uma nova maneira de tratar a realidade com sua turma de alunos, que pode ser definida como a abordagem metodológica que assumirá perante os conflitos que possam vir a se instalar no grupo.
Observação sem avaliação
“Quando combinamos observação com avaliação, as pessoas tendem a receber isso como crítica”. [2]
É bastante importante para o professor manter a observação distante da avaliação. Num primeiro momento essa proposta pode causar estranheza, mas com a prática, será notado que tal postura colabora para um olhar mais específico sobre o conflito instalado entre as crianças. Muitas vezes, nós professores, generalizamos os comportamentos dos alunos, especialmente aqueles que se apresentam fora dos “padrões de boa conduta”, por exemplo. O que a CNV nos traz é um convite a refletirmos na especificidade do momento e do contexto, para que possamos isentar nossa observação de avaliação.
Exemplos:
Claudia é uma boa aluna – contém avaliação = Boa aluna a partir de qual critério? Pedagógico? Comportamental? Tem critério subjetivo, de caráter particular na visão do professor.
Claudia desenvolve as atividades em sala de aula com dedicação – é uma constatação. Tem critério objetivo com relação à postura da aluna.
Reconhecimento das necessidades = raiz dos sentimentos
“Quando expressamos nossas necessidades, temos mais chances de vê-las satisfeitas”. [3]
Ao observar a comunicação entre os alunos, o professor pode identificar algumas necessidades motivadoras de conflitos: confiança, pertencimento a um grupo, apoio, segurança emocional, consideração, diversão, proteção, toque, etc. Indico que pesquisas sejam realizadas por professores para que possam ter facilidade nesta observação, já que necessidades não atendidas, especialmente após um tempo de manifestação, podem se tornar sentimentos.
Identificação e expressão de sentimentos
“Expressar nossa vulnerabilidade pode ajudar a resolver conflitos”. [4]
Necessidade não atendida se consolida em sentimento, que muitas vezes, pode ser mascarada pelas crianças. Elas não foram ensinadas a expor o que sentem, pelo contrário, em algumas famílias, extremamente tradicionais, as crianças não podem, sequer, chorar.
O professor, ao observar raiva, irritação, frustração, tristeza, ansiedade, medo na expressão de algumas crianças, necessitará de pausa para percepção de suas necessidades lacunadas.
Neste contexto, a CNV aponta para a apresentação das vulnerabilidades que possuímos. Para as crianças não é tão complicado demonstrar aquilo que não conseguem lidar, que não tem domínio, basta que seja treinada sempre que possível, para que se torne uma prática.
Com esses apontamentos, o professor pode organizar novas intervenções com as crianças, de modo que se sintam mais acolhidas e compreendidas, e aos poucos, constitua novo perfil de comunicação entre elas, já na prática da CNV.
[1] ROSENBERG, 2006, p.113.
[2] ROSENBERG, 2006, p.50.
[3] ROSENBERG, 2006, p.84.
[4] ROSENBERG, 2006, p.67.
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